sexta-feira, 17 de maio de 2019

O Uso e Abuso da Língua


O Uso e Abuso da Língua

Outra área em que os crentes judeus tendem a ter as “faixas” do judaísmo se apegando a eles é em sua atitude de superioridade sobre pessoas de outras nacionalidades. Isto tem sido enraizado neles ao longo de muitas centenas de anos. É compreensível como tal coisa poderia se desenvolver; pois os israelitas eram o povo “escolhido” de Deus (Dt 7:6; 14:2) e divinamente favorecido acima das outras nações (Dt 28:9-13, 32:8-14) – e seu orgulho nacional revelava-se neste fato. A tendência desses convertidos judeus era trazer esse espírito com eles para as fileiras Cristãs. Quando descontrolado, manifesta-se em ofensas com “a língua”. Este foi especialmente o caso em comentários depreciativos sendo feitos para os crentes gentios que estavam sendo salvos e acrescentados à companhia Cristã. Desnecessário dizer que isso era prejudicial para a comunhão dos santos, e trazia “amarga inveja, e sentimento faccioso [contendas – JND] entre os irmãos (vs. 14-16). Algo ainda mais sério está na raiz desse problema; tornou-se evidente que alguns dos judeus, que professavam fé no Senhor Jesus Cristo, não eram salvos – eram meros crentes professos. Assim, não era de se admirar que tais ofensores não tivessem remorso em provocar discórdia com comentários ofensivos.
De muitas maneiras, nosso discurso é um indicador de quem realmente somos; manifesta nossa condição espiritual. O que você é inevitavelmente será revelado pelo que você diz. Pode haver exceções (Sl 55:21), mas geralmente o que está no coração sairá pela boca. Tem sido dito que a língua é uma denunciadora do coração. Salomão nos advertiu: “se imaginaste o mal, põe a mão na boca” (Pv 30:32). Por quê? Porque o que estivermos pensando provavelmente sairá de nossa boca, se não for julgado no coração. Por isso, falamos de nós mesmos pelo que sai de nossas bocas. O Senhor Jesus ensinou: “do que há em abundância no coração, disso fala a boca” (Mt 12:34).
Visto que a língua é um representante honesto do que somos, neste capítulo Tiago usa a língua como outro teste quanto à realidade da fé professada por uma pessoa. Ele prossegue para abordar a vaidade de uma fé superficial que não produz evidência de sua realidade na vida de alguém. Ele queria que seus compatriotas, que haviam feito uma profissão de fé no Senhor Jesus, provassem a realidade de sua fé pelo controle de suas línguas e, assim, caminhar em comunhão feliz com seus irmãos.
V. 1 – É triste dizer que houve uma aspiração indevida em alguns desses judeus convertidos de serem mestres sobre outros – particularmente os gentios que haviam acreditado. Tiago se move para abordar isso como uma introdução aos seus comentários sobre o uso e o abuso da língua. Ele diz: “Não vos torneis muitos de vós mestres, meus irmãos, sabendo que receberemos um juízo mais severo” (TB). Tiago não estava falando do uso correto do dom de ensinar, em que a língua seria usada para edificar os santos na verdade, mas da propensão da carne que se deleita em ensinar os outros. Portanto, o assunto aqui não é um mestre exercendo seu dom na dependência do Senhor, mas a propensão a querer ensinar – o pecado de clamar pela cadeira de um mestre.
Sendo judeus, eles conheciam bem as Escrituras; isto lhes deu uma vantagem distinta sobre os seus irmãos gentios que não tinham sido tão favorecidos. Mas isso levou alguns a assumir que uma posição de respeito e admiração deveria ser dada a eles entre seus irmãos Cristãos, como os rabinos no judaísmo. É um desejo natural da carne querer instruir e legislar sobre os outros, e assim ganhar ascendência entre os homens – mas, infelizmente, isso desperta ressentimento e “amarga inveja, e sentimento faccioso [contendas – JND] (v. 14). Posições de admiração podem ter sido defendidas entre os judeus no judaísmo, mas não há lugar para isso no Cristianismo. O Senhor Jesus ensinou a Seus discípulos: “não queirais ser chamados Rabi, porque um só é o vosso Mestre a saber, o Cristo, e todos vós sois irmãos” (Mt 23:8).
O ensino entre os crentes precisa ser feito (1 Tm 4:13), mas aqueles que ensinam devem entender que uma responsabilidade maior recai sobre todos os que ensinam. Todos os que ensinam, professam ter um entendimento do dever do Cristão e, portanto, estão obrigados a obedecê-lo. O aspecto do “juízo” a que Tiago se refere aqui é o castigo governamental de Deus ao Seu povo enquanto eles estão na Terra. Se nossos caminhos não agradam ao Senhor, Ele Se empenha a nos corrigir por meio de julgamentos disciplinares em nossa vida que são de natureza providencial (1 Pe 1:16-17, 3:10-12). Esse tipo de julgamento não tem nada a ver com a salvação eterna do crente em Cristo.
Vs. 2-4 – Tiago passa do uso da língua no ensino público para o uso da língua em conversas em geral. Na questão de controlar a língua, ele diz: “Porque todos (nós) tropeçamos [ofendemos – JND] em muitas coisas”. Todos nós sabemos o que é sentir “o lado afiado” de uma observação ofensiva, mesmo assim todos nós fizemos tais comentários uma vez ou outra (Pv 12:18). Ao dizer “nós”, Tiago não apontou o dedo para os infratores sem se incluir. Um caso em questão, na verdade, ocorreu mais tarde na vida de Tiago quando ele deu um mau conselho a Paulo em relação a fazer um voto e entrar no templo (At 21:18-25). Até Moisés, o homem mais manso de toda a Terra, ofendeu-se assim; ele falou “imprudentemente com seus lábios” (Nm 12:3; 20:9-12; Sl 106:33). Salomão disse: “O que guarda a sua boca e a sua língua, guarda das angústias a sua alma” (Pv 21:23, 13:3). Portanto, todos precisamos orar a oração de Davi: “Põe uma vigia, ó Senhor, diante da minha boca; guarda a porta dos meus lábios” (Sl 141:3).
O Sr. W. MacDonald disse que, como nos tempos antigos, o médico costumava verificar o estado de saúde de uma pessoa examinando sua a língua, muitas vezes podemos discernir o estado da alma de uma pessoa, verificando a atividade de sua língua. Como mencionado anteriormente, a língua é um indicador do coração. Nenhum membro do corpo humano está mais preparado para seguir os impulsos da natureza caída pecaminosa do que a língua. J. N. Darby apropriadamente disse: “O movimento da língua é a primeira expressão da vontade do homem natural”. Isto é verdade tanto para um crente quanto para um incrédulo, pois todos os homens têm uma natureza caída pecaminosa.
Como os pecados da língua são os mais comuns e os mais difíceis de controlar, a medida da maturidade Cristã está no controle de sua língua. Tiago diz: “Se alguém não tropeça [ofende – JND] em palavra, o tal varão é perfeito”. A perfeição, no sentido de que ele a usa aqui, é o crescimento pleno – a maturidade (Hb 5:14). O controle da língua é de extrema importância para a manutenção da paz e da união entre os irmãos. Como já foi mencionado, esse foi um bom teste para a multidão mista de professos judeus convertidos por causa de sua longa história de preconceito contra os gentios, com quem eles eram agora chamados a andar.

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